Logo após a aprovação pelo Senado, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que altera as regras para o pagamento de precatórios já enfrenta sua primeira grande contestação judicial. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) anunciou oficialmente que irá acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para questionar a constitucionalidade da medida, argumentando que a proposta viola a separação dos Poderes e a coisa julgada. Confira os detalhes na matéria a seguir.
Tão logo foi aprovada em segundo turno no Senado a PEC dos Precatórios (PEC 66/23), na noite desta terça-feira, 2, o Conselho Federal da OAB anunciou que ingressará com ADIn no STF contra o texto.
Segundo a Ordem, a proposta é conhecida como “PEC do calote dos precatórios”, por impor limites ao pagamento de precatórios pelos municípios.
A promulgação está prevista para a próxima terça-feira, 9, conforme anúncio do presidente do Senado e do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre. O presidente nacional da OAB, Beto Simonetti, afirmou que a OAB ajuizará ação no Supremo no mesmo dia.
“A OAB vai ao Supremo porque essa PEC viola frontalmente a Constituição, compromete a autoridade do Poder Judiciário e institucionaliza o inadimplemento do Estado com seus próprios cidadãos.”
Fragilidades
A PEC institui limites para o pagamento de precatórios por municípios, vinculando os desembolsos a percentuais da Receita Corrente Líquida (RCL).
Para a OAB, a medida fragiliza a efetividade das decisões judiciais e transforma um direito reconhecido judicialmente em um crédito simbólico. A entidade argumenta que a proposta reedita mecanismos já declarados inconstitucionais pelo Supremo nas ADIns 4.357, 7.047 e 7.064.
Em nota técnica enviada ao Congresso Nacional, a OAB aponta violações a cláusulas pétreas da Constituição, como a coisa julgada, a separação de poderes, o direito de propriedade e a isonomia entre credores.
Além da nota, a decisão da entidade tem como base parecer técnico encomendado à Comissão Nacional de Estudos Constitucionais da OAB, assinado pelos juristas Egon Bockmann Moreira e Rodrigo Kanayama.
No documento, eles alertam que a proposta cria um ciclo de inadimplência institucionalizada, empurrando para as futuras gerações o custo de decisões judiciais já consolidadas.
Para Marcus Vinícius Furtado Coêlho, membro honorário vitalício, “a OAB possui uma tradicional luta em favor dos credores do poder público”. “O calote dos precatórios desrespeita o direito de propriedade e torna inócua as decisões do Judiciário”.
A manifestação da OAB é acompanhada de pareceres técnicos e de posicionamentos públicos de membros do Comitê Nacional de Precatórios do CNJ, que alertam para os impactos da proposta nos direitos de credores.
Em manifestação encaminhada ao presidente do CNJ, ministro Luís Roberto Barroso, os integrantes do Comitê afirmam que a PEC 66/23 representa uma “moratória compulsória” sem previsão de quitação integral e compromete o acesso igualitário à ordem jurídica.
A OAB deve incluir na ação pedido cautelar para suspensão imediata da eficácia da norma.